quarta-feira, 27 de abril de 2011

Projeto Serra do Feiticeiro

GOVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
SECRETARIA DE ESTADO, EDUCAÇÃO E CULTURA
8ª DIRETORIA REGIONAL DE EDUCAÇÃO
ESCOLA ESTADUAL PEDRO II – ENS. MÉDIO

Projeto Serra do Feiticeiro:
Ecossistema como sustentabilidade de um povo.


A P R E S E N T A Ç Ã O

O Projeto Serra do Feiticeiro é uma atividade de pesquisa e extensão que aproxima a sociedade em geral ao tema central – Ecossistema como sustentabilidade de um povo, a partir de atividades desenvolvidas em sala de aula.

B R E V E   H I S T Ó R I C O
A Serra do feiticeiro é um ecossistema de 500 metros de altitude localizada a 12 km de Lajes/RN, as margens da BR 304, a Serra é um ponto de turismo religioso, social e esportivo, além de uma riqueza ecológica exuberante. Sua subida íngreme constitui um desafio para os turistas e pagadores de promessas, que pelas graças alcançadas, levam no mês de Maio, suas oferendas para depositar na Capela.


A T I V I D A D E S D E S E N V O L V I D A S

1) Apresentações artístico-culturais dos alunos;
2) Atividades de educação física com alunos e simpatizantes;
3) Caminhada ecológica com alunos, comunidade local e turistas;
4) Concursos de fotografia, pintura e produção de gêneros textuais;
5) Educação ambiental com as comunidades rurais no entorno da Serra;
6) Exibição de vídeos educativos (curta metragem) e filmes;
7) Exposições de ervas medicinais, fauna e flora locais;
8) Pesquisas “in loco”;
9) Produção de gêneros textuais em sala de aula;
10) Resgate das histórias, lendas e religiosidade referentes as culturas locais  do ontem e do hoje;           
11) Visitas às minas abandonadas e ao bioma caatinga.
C R O N O G R A M A
D A T A S
A T I V I D A D E S
Março/Abril
Encontros preparatórios do Projeto.
Abril
Atividades em sala de aula.
02 de Maio
Aula de campo e educação ambiental.
03 de Maio
Subida da Serra, caminhada ecológica, trilhas e outras ações.



Vista da Serra do Feiticeiro da Comunidade 

Vista frontal da Capela no alto da Serra
R e a l i z a ç ã o
Escola Estadual Pedro II - Ensino Médio Inovador e Noturno Diferenciado

Fé e Mistério: A história do menino encontrado morto na serra

Capela: Romaria do 03 de Maio . Veneração ao cruzeiro da Divina Santa Cruz.

Fotos: Tárcio Araujo

Pedra do anjo - local onde o menino foi achado
No ano de 1903 um fato trágico mudou a história da Serra do Feiticeiro;Uma criança por nome de José Alexandrino, de apenas cinco anos, acompanhava a mãe quando pastoreava cabras pelas redondezas da serra. Ao entardecer, a criança se perdeu da mãe. Após 03 dias de buscas, o corpo do menino foi encontrado em estado de putrefação, deitado sob uma pedra. Perdido na serra, ele morreu de sede e fome. Os moradores de Lajes e região elegeram o local como solo sagrado.
Anos depois, a população construiu uma capela bem próximo à área onde o menino morreu. Os religiosos fincaram um cruzeiro que recebeu a denominação de "Divina Santa cruz". Todos os anos dezenas de fiéis fazem romarias sempre a cada dia 03 de Maio, data em que o corpo do menino foi achado.
Apesar da romaria do 03 de Maio já estar encorporada ao folclore religioso do município de Lajes, e dos vários relatos de curas obtidas, a igreja católica não inseriu o evento ao seu calendário religioso.

Serra do Feiticeiro tem mistérios e riquezas

Divulgação
Ela é misteriosa, imponente, e esconde riquezas ainda inexploradas. Refiro-me a Serra do Feiticeiro no município de Lajes. Uma importante reserva natural da caatinga potiguar. Notável formação geológica com cerca de 400 metros de altitude e mais de 12 Quilômetros de extensão que se esparrama ao longo do Sertão Central. Essa montanha emblemática vem despertando o interesse de estudantes e profissionais, como grande potencial capaz de gerar emprego e renda através do turismo sustentável.
No início de Dezembro reuni alguns colegas do curso de Comunicação Social e fomos subir a serra. Conosco, alguns equipamentos de áudio e vídeo. Tínhamos em mente gravar um documentário sobre o ambiente do lugar. Enveredamos montanha acima ao cair da tarde quando os raios do sol atingiam os seus paredões rochosos, refletindo tons e cores de pigmentos minerais que se encontram infestados nas rochas. Algo muito bonito que mereceu a nossa observação. Tivemos a oportunidade de contemplar o crepúsculo do alto da Serra. Particularmente pra mim, foi como contemplar o mar. Um espetáculo que deixou a todos absortos diante de tamanha beleza natural.
À noite, montamos acampamento bem no alto, onde os sertanejos chamam de “chã” da serra. O pernoite no local nos permitiu admirar o imenso cosmos cobrindo o sertão de Lajes. De cima da montanha, a sensação que se tem é de que o céu fica mais próximo de nós, de que podemos tocar as estrelas. Algo que nos possibilitou alguns instantes de reflexão sobre nossas vidas e a grandeza de Deus.
Diz à lenda que há muitos anos, no início da colonização, habitou a serra um índio solitário. Um xamã (curador), de uma tribo descendente dos Tapuias que existia na região. Com o avanço da colonização portuguesa pelo interior do Rio Grande do Norte, as tribos iam sendo dizimadas. Os que conseguiam escapar do massacre dos europeus, se escondiam nas serras e encostas protegidas por matas fechadas e de difícil acesso. Para não ser morto, o velho índio se escondeu na cordilheira serrana que se estendia pela região central do Estado. Desde então a misteriosa serra passou a ser o refúgio daquele índio solitário. Lá, ele conviveu pacificamente com os colonos da região. Profundo conhecedor das plantas nativas e da “medicina” indígena, o velho xamã era um alquimista. Com suas porções, incensos e rituais, ele curava os animais dos rebanhos que pertenciam aos criadores da região. Ainda de acordo com essa lenda, além dos animais, o velho índio da serra passou também a curar as pessoas. Fato que o notabilizou como o Feiticeiro da serra. Daí o nome; Serra do Feiticeiro
Outro fato marcante que ocorreu por lá, foi em 1903;Uma criança por nome de José Alexandrino, de apenas cinco anos, acompanhava a mãe quando pastoreava cabras pelas redondezas da serra. Ao entardecer, a criança se perdeu de sua genitora. Após 03 dias de buscas, o corpo do menino foi encontrado em estado de putrefação, deitado sob uma pedra. Havia morrido de sede e fome. Os moradores de Lajes e região reverenciaram o local como solo sagrado. Anos depois, a população construiu uma capela bem próxima à área onde o garotinho morreu. Os religiosos fincaram um cruzeiro que recebeu a denominação de “Divina Santa cruz”. Todos os anos, fiéis faz romarias sempre a cada dia 03 de Maio, data em que o corpo do menino foi achado. Apesar de a romaria já está incorporada ao folclore religioso do município de Lajes, e dos vários relatos de curas obtidas, a igreja católica não inseriu o evento ao seu calendário religioso.
A Serra do Feiticeiro é assim, povoada de lendas e mistérios. De certo modo, parece que ela tem um magnetismo próprio que exerce atração direta nas pessoas que a visitam, mesmo que seja pela primeira vez. O misticismo e a religiosidade estão intrinsecamente ligados à história do lugar.
Após visitação à capela, fomos até outro ponto no mínimo intrigante: um grande espaço aberto em forma de círculo no meio da vegetação, localizado acima do paredão mais alto da montanha seria um vestígio de que naves extraterrestres (Discos voadores), já pousaram no local. Moradores mais antigos da região relatam que há décadas passadas, era visto constantemente um clarão que se projetava do alto, na mesma direção onde se encontra a forma geométrica arredondada. Até hoje ninguém sabe dizer ao certo do que se tratava. Esse é mais um enigma que envolve a áurea misteriosa da serra do Feiticeiro.
Os discos voadores estão no campo das especulações e das hipóteses. De palpável e concreto mesmo, são as minas e galerias que se encontram abertas na montanha. Elas foram feitas por uma mineradora que retirou calcário e xelita da área, há décadas atrás. A mineração acabou, mas os registros da exploração ficaram pelo caminho. Na subida da serra, um enorme galpão encontra-se abandonado. A estrutura, hoje obsoleta, bem que poderia ser utilizada como ponto de apoio para os visitantes.
Saímos da Mina e subimos um pouco mais. Bem próximo ao cume, existe uma verdadeira dádiva da natureza; o chamado “olho dágua”. As águas que caem das chuvas ficam armazenadas em um tanque natural revestido de rochas com uma fenda por onde se retira o precioso líquido. Ele serve para matar a sede de quem passa pelo local, principalmente caçadores.
Mas o bom mesmo no alto da Serra do Feiticeiro, além da vista panorâmica, são as excelentes condições dos ventos. Tanto é que já foi aprovado um projeto em nível Federal para que a Serra seja contemplada com um parque gerador de energia eólica. O parque deverá ser instalado nos próximos anos.
Esses mesmos ventos que trarão a energia, também vão propiciar a prática do vôo livre. Representantes do Clube potiguar de vôo Livre mostraram interesse pela área. Para 2009 deve ser instalada uma rampa para saltos de Asa Delta e Parapente, partindo do platô da Serra. Além do vôo livre, outros esportes radicais como; rapel, tracking, escalada, trilhas e arvorismo, podem muito bem ser explorados em toda a sua extensão.
A Serra ainda guarda próximo às suas imediações, dois sítios arqueológicos, riquíssimos em gravuras rupestres. Os sítios estão localizados nas fazendas Santa Rosa e Trincheiras. Por lá, ainda gravamos na “Casa de pedra”. Uma formação natural bastante ampla. Segundo os mais antigos do lugar, teria servido de morada para o Feiticeiro da serra.
A flora local é típica do bioma caatinga. Ainda se apresenta bem conservada. No entanto, a caça predatória é indiscriminada. Animais como; Pebas, preás, veados e um grande número de pássaros da fauna nativa, estão desaparecendo.
Depois de tudo o que vi e registrei em imagens e depoimentos desbravando a Serra do Feiticeiro, cheguei à conclusão de que já se faz necessário um projeto para tornar a região apta à prática do turismo sustentável. É preciso urgentemente que os nossos governantes tracem metas, criem condições de visitação do local e projetem a reserva na mídia do Estado como um dos mais novos destinos turísticos do Rio Grande do Norte.
Bom! A nossa aventura pela serra do Feiticeiro, por enquanto termina aqui. Agora tenho muitas imagens para editar e um documentário para produzir. De resto, espero ter contribuído para alguma coisa.
Concluo com uma frase para nossa reflexão: “Caminhantes! Não existe caminho, o caminho e faz ao caminhar”. (Che Guevara).
Tárcio Araújo
Postado por Francinete Torres- Geógrafica

segunda-feira, 25 de abril de 2011

PROVÃO PREPARATÓRIO for ENEM and VESTIBULAR

ATENÇÃO ALUNOS DA ESCOLA PEDRO II - SEMANA DE PROVÃO
Aos alunos do professor Marcos Antonio - Língua Portuguesa Brasileira, um lembrete:
Estudem. Para os alunos dos 3º anos são 40 questões objetivas, para os dos 2º são 30.
Eu pensei em desejar boa sorte, mas não vou, é melhor estudar, a sorte nem sempre funciona.   

segunda-feira, 11 de abril de 2011

INTERVALO CULTURAL NO PEDRO II

Foto: Cícero - Alunos do Pedro II no Intervalo Cultural

Na manhã da última Sexta-feira, os alunos do Grêmio da Escola Pedro II realizaram o Intervalo Cultural, que consiste em apresentações culturais feitas pelos alunos da própria escola no intervalo das sextas feiras.

Gosto da ideia e também já fiz parte do evento juntamente com o Pau e Lata (naquele tempo gostava de cantar Rap) quando era aluno da referida escola, na época, a ideia do projeto foi do professor Marcílio.

Precisamos canalizar a energia e as atitudes dos nossos jovens para a cultura, uma grande aliada da educação.
Fonte: http://www.cicerolajes.blogspot.com/

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Pico do Cabuji
Pico do Cabuji
Altitude  -          590 m
Coordenadas -  05" 42" S 36" 19' W 
Localização-     Município de Angicos Rio Grande do Norte 



O Pico do Cabuji -tupi -guarani cabuji, 'peito de moça; conhecido também como "Serra do Cabuji" ou "Serrote da Itaretama", que significa "região de muitas pedras" em tupi é, segundo fontes não cientificas, o único vulção extinto do Brasil que, até hoje, apresenta sua forma origina.

 Possui 590 metros de altitude, e está localizado no Parque Ecológico Estadual do Cabugi no município de Angicos, no estado do Rio Grande do Norte. Passagem obrigatória entre Natal e Mossoró, as duas principais cidades do estado, sua imagem (Serra do Cabuji), bastante difundida no estado potiguar, é praticamente um de seus símbolos informais, a ponto de que cabuji seja utilizado como metonímia ao Rio Grande do Norte.
Composto principalmente por rochas basálticas alcalinas intrusivas, está associado a importante evento magmático terciário da região, responsável por diversos corpos rochosos espallhados pelo estado do Rio Grande do Norte. Sua idade isotópica é uma das mais mais recentes das rochas ígneas brasileiras (aproximadamente 19 milhões de anos). Sua forma parecida de domo de lava é devido à erosão diferencial, pois a rocha constituinte não é riolito ou dacito, mas sim, álcali olivina basalto. A rocha contêm xenólitos ultramáficas originado do manto.




Wikipédia, a enciclopédia livre---
Postado por Francinete Torres- Professora de Geografia

A importância da água

A água é um recurso essencial para a vida. Por isso é necessário preserva-lá. Eis a questão.
A vida só se tornou perceptível apos o aparecimento da água. Para termos uma noção em relação a importância deste recurso basta parar e pensar. Por exemplo, nosso corpo é constituído de 75% de água. O que á torna indispensável para vida celular. E não só para o homem, mas, para outros seres que fazem parte do nosso planeta.
Entretanto 97% da água está destinada aos oceanos e apenas 1 %, rios, lagos e etc.. O que ocasiona grande parte dos problemas pois necessitamos de água doce e no entanto possuímos em maior quantidade água salgada. Este é o ponto onde se encaixa a questão da preservação.
O desperdício de água cresce a cada dia, o que poderá provocar futuramente um déficit em sua quantidade. Acarretando uma serie de problemas. Onde estes irão afetar não só aos homens, mas principalmente ao meio ambiente.
Sendo assim, economizar água torna-se um fator benéfico e essencial á vida. O que nos torna responsável pelo controle do espaço aquático.Pois sua falta em alguns casos pode provocar patogenos que levam até a morte.
Dado o exposto pode-se dizer que, a melhor solução para a manutenção de nossa existência é a pratica da preservação dos recursos hídricos. Desta maneira cabe as entidades governamentais a criação de campanhas de conscientização. Mas faça a sua parte que futuramente o planeta terra agradecerá.

Ana Carolina Oliveira da costa
Postado por Francinete Torres-

terça-feira, 5 de abril de 2011

BULEM

Bulem (Bullying )



"Brincadeiras que machucam a alma, e que podem deixar cicatrizes para a vida toda."
Trata-se de um conjunto de atitudes agressivas, repetitivas e sem motivação aparente, praticados por um aluno ou um grupo contra outro aluno, causando grande sofrimento e angústia. Tais “brincadeiras”, disfarçadas de um duvidoso senso de humor é usado quando crianças e adolescentes recebem apelidos que ridicularizam, sofrem humilhações, ameaças, intimidação, roubo e agressão moral e física por parte dos colegas.Trata-se do isolamento social intencional, dos apelidos inconvenientes, da potencializarão dos defeitos estéticos, das gozações que magoam profundamente e humilham. Frases como: “O cabeção, sai logo da frente”; “Fala sua metida”; “Abre a boca, zumbi”; “Dá licença para o Dumbo passar”, “Gente, olha o cabelo de Bombril chegando de mansinho”, “Fala aí baranga”. E a classe cai na risada.As vítimas escolhidas para tal violência, sofrem silenciosa e continuamente, tornando sua vida escolar um total sofrimento. As feridas abertas na alma dessas crianças vítimas dificilmente cicatrizam. Dados os prejuízos psicológicos que essa forma de agressão produz temos que reconhecer e procurar sanar, também, a íntima ligação do fenômeno com o baixo rendimento escolar, o absenteísmo e a evasão escolar.Em alguns casos extremos, o bullying pode afetar o estado emocional da criança/adolescente de tal maneira que ele opte por soluções trágicas, mas muitos transtornos mentais também podem ser desencadeados – Fobia Social, Depressão, Transtorno Dismórfico Corporal- podendo causar um grande prejuízo para a auto-estima etc. Pesquisas revelam que uma grande porcentagem destas violências ocorrem dentro de sala de aula e nos pátios das escolas durante o recreio.
Para cada vítima que encontre entendimento para seu sofrimento ou para cada agressor que se dê conta de sua transgressão, renova-se a esperança de um mundo mais justo e solidário.O que diferencia o bullying de outros tipos de violência?A principal diferença é a propriedade de causar traumas irreparáveis, os psiquismos das vítimas, comprometendo sua saúde física e mental e seu desenvolvimento sócio educacional. Ao contrário de outras ações violentas, ocasionais e reativas o bullying é caracterizado por ações deliberadas e repetitivas, pelo desequilíbrio de poder e pela sutileza com que ocorre, sem que os adultos se dêem conta do que ocorre e as desastrosas conseqüências.


Artigo publicado no Blog- Sem Limetes

Postado por Francinete Torres- Professora  Geógrafa
Lajes RN

sexta-feira, 1 de abril de 2011

ESTUDANTES DA ESCOLA PEDRO II PARTICIPARÃO DA ESCOLHA DO LIVRO DIDÁTICO PNDL 2012



 


A iniciativa é inovadora no contexto da educação em geral. Os professores de "Língua portuguesa brasileira" Dalva Aurora, Marcos Antonio e Nevonice Laureano não escolherão o livro didático sozinhos.

Eles vão contar com uma importante participação, a dos alunos da escola. A intenção além de ser exemplar, objetiva o exercício da democracia. "Eles são os prinicipais usuários do livro", salienta o professor Marcos.

A ideia é simples: Os professores estão cadastrando três estudantes de cada série, os quais vão representar a turma na escolha do livro, está marcado um ou dois encontros para a análise dos exemplares de cada editora.    
LEITURA COMPARTILHADA

O SABER E O PODER
         
         

           Na sociedade contemporânea, os homens se distinguem em duas categorias frente á posse sistemática e organizada do conhecimento: os que sabem e os que não sabem.
Na medida e, que os primeiros são os que podem dizer a agir, tomar decisões, interferir, dirigir e opinar sobre a totalidade da vida social, nos campos da cultura, do trabalho, da vida política, da ordem jurídica, o saber se converte  instrumentos para o exercício, preparando os indivíduos para manejá-lo com mais eficiência e competência.
É, no entanto, importante observar que a educação escolar cria ao mesmo tempo os instrumentos para o exercício do poder e os impedimentos para cercear oarbítro do poder. Isto significa que, aquele detêm o controle dos processos educacionais são capazes de impedir que outros se apossem de tais  instrumentos  e de manipular o que eles devem saber. Dessa forma, a educação não apenas produz o que os  ' danos do saber" julgam necessário para eles conhecerem, mas também  o que a maioria deve ignorar. Ainda mais, acabam por legitimar o exercício do poder nas várias instâncias da sociedade pelo que os indivíduos sabem e pelo que eles ignoram. Os indivíduos   são estigmatizados com as marcas do treino cultural que distinguem os que não  frequentaram a escola, diferenciando-os tambémcom relação aos níveis de educação destes últimos. Os gestos, o tom de voz, os temas  de conversa, o gosto estético, o controle das emoções, as preferências musicais, o modo de ver a si mesmo e ao mundo, tudo isso evidencia o grau de educação de umindivíduo, denunciando aos outros os traços de sua herança cultural e dos níveisescolares percorridos. Identificando e rotulando como "analfabeto", ou "de escolaridade rudimentar, '"com razoável nível de formação intelectual", ou ainda" cultor das letras e artes", "administrador competente"," político de alto nível", ect... o indivíduo pode exercer tranquilamente funções diferenciadas na sociedade, em nome de e por causa de seu acesso aos ens culturais. Sob a capa dessa formalidade preenchida sob essa dimensão simbólica, oculta-se a verdadeira face do poder: o acesso ao poder só é permitido àqueles que detêm o controle da produçao e distribuição dos bens e riqueza da sociedade.





                                                                                         Lições do Príncipe e  Outras Liçoes.
                                                                                            Rodrigues, Neidson.
                                                                                                  Ed. Cortez





  

Paulo Freire foi um grande esducador brasileiro

Frases de Paulo Freire

Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão  
   Paulo Freire
Eu sou um intelectual que não tem medo de ser amoroso, eu amo as gentes e amo o mundo. E é porque amo as pessoas e amo o mundo, que eu brigo para que a justiça social se implante antes da caridade.
    Paulo Freire
Conhecer é tarefa de sujeitos, não de objetos. E é como sujeito e somente enquanto sujeito, que o homem pode realmente conhecer.
Paulo Freire
A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria.
     Paulo Freire

Ai daqueles que pararem com sua capacidade de sonhar, de invejar sua coragem de anunciar e denunciar. Ai daqueles que, em lugar de visitar de vez em quando o amanha pelo profundo engajamento com o hoje, com o aqui e o agora, se atrelarem a um passado de exploração e de rotina.

  Paulo Freire

Verdades da Profissão de Professor
Ninguém nega o valor da educação e que um bom professor é imprescindível. Mas, ainda que desejem bons professores para seus filhos, poucos pais desejam que seus filhos sejam professores. Isso nos mostra o reconhecimento que o trabalho de educar é duro, difícil e necessário, mas que permitimos que esses profissionais continuem sendo desvalorizados. Apesar de mal remunerados, com baixo prestígio social e responsabilizados pelo fracasso da educação, grande parte resiste e continua apaixonada pelo seu trabalho.
A data é um convite para que todos, pais, alunos, sociedade, repensemos nossos papéis e nossas atitudes, pois com elas demonstramos o compromisso com a educação que queremos. Aos professores, fica o convite para que não descuidem de sua missão de educar, nem desanimem diante dos desafios, nem deixem de educar as pessoas para serem “águias” e não apenas “galinhas”. Pois, se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda.
    Paulo Freire

Se, na verdade, não estou no mundo para simplesmente a ele me adaptar, mas para transformá-lo; se não é possível mudá-lo sem um certo sonho ou projeto de mundo, devo usar toda possibilidade que tenha para não apenas falar de minha utopia, mas participar de práticas com ela coerentes.
     Paulo Freire

"A liberdade, que é uma conquista, e não uma doação, exige permanente busca. Busca permanente que só existe no ato responsável de quem a faz. Ninguém tem liberdade para ser livre: pelo contrário, luta por ela precisamente porque não a tem. Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho, as pessoas se libertam em comunão."
 Paulo Freire



Carta de Paulo Freire aos professores


Ensinar, aprender:
leitura do mundo, leitura da palavra

NENHUM TEMA mais adequado para constituir-se em objeto desta primeira carta a quem ousa ensinar do que a significação crítica desse ato, assim como a significação igualmente crítica de aprender. É que não existe ensinar sem aprender e com isto eu quero dizer mais do que diria se dissesse que o ato de ensinar exige a existência de quem ensina e de quem aprende. Quero dizer que ensinar e aprender se vão dando de tal maneira que quem ensina aprende, de um lado, porque reconhece um conhecimento antes aprendido e, de outro, porque, observado a maneira como a curiosidade do aluno aprendiz trabalha para apreender o ensinando-se, sem o que não o aprende, o ensinante se ajuda a descobrir incertezas, acertos, equívocos.
O aprendizado do ensinante ao ensinar não se dá necessariamente através da retificação que o aprendiz lhe faça de erros cometidos. O aprendizado do ensinante ao ensinar se verifica à medida em que o ensinante, humilde, aberto, se ache permanentemente disponível a repensar o pensado, rever-se em suas posições; em que procura envolver-se com a curiosidade dos alunos e dos diferentes caminhos e veredas, que ela os faz percorrer. Alguns desses caminhos e algumas dessas veredas, que a curiosidade às vezes quase virgem dos alunos percorre, estão grávidas de sugestões, de perguntas que não foram percebidas antes pelo ensinante. Mas agora, ao ensinar, não como um burocrata da mente, mas reconstruindo os caminhos de sua curiosidade razão por que seu corpo consciente, sensível, emocionado, se abre às adivinhações dos alunos, à sua ingenuidade e à sua criatividade o ensinante que assim atua tem, no seu ensinar, um momento rico de seu aprender. O ensinante aprende primeiro a ensinar mas aprende a ensinar ao ensinar algo que é reaprendido por estar sendo ensinado.
O fato, porém, de que ensinar ensina o ensinante a ensinar um certo conteúdo não deve significar, de modo algum, que o ensinante se aventure a ensinar sem competência para fazê-lo. Não o autoriza a ensinar o que não sabe. A responsabilidade ética, política e profissional do ensinante lhe coloca o dever de se preparar, de se capacitar, de se formar antes mesmo de iniciar sua atividade docente. Esta atividade exige que sua preparação, sua capacitação, sua formação se tornem processos permanentes. Sua experiência docente, se bem percebida e bem vivida, vai deixando claro que ela requer uma formação permanente do ensinante. Formação que se funda na análise crítica de sua prática.

Partamos da experiência de aprender, de conhecer, por parte de quem se prepara para a tarefa docente, que envolve necessariamente estudar. Obviamente, minha intenção não é escrever prescrições que devam ser rigorosamente seguidas, o que significaria uma chocante contradição com tudo o que falei até agora. Pelo contrário, o que me interessa aqui, de acordo com o espírito mesmo deste livro, é desafiar seus leitores e leitoras em torno de certos pontos ou aspectos, insistindo em que há sempre algo diferente a fazer na nossa cotidianidade educativa, quer dela participemos como aprendizes, e portanto ensinantes, ou como ensinantes e, por isso, aprendizes também.

Não gostaria, assim, sequer, de dar a impressão de estar deixando absolutamente clara a questão do estudar, do ler, do observar, do reconhecer as relações entre os objetos para conhecê-los. Estarei tentando clarear alguns dos pontos que merecem nossa atenção na compreensão crítica desses processos.
Comecemos por estudar, que envolvendo o ensinar do ensinante, envolve também de um lado, a aprendizagem anterior e concomitante de quem ensina e a aprendizagem do aprendiz que se prepara para ensinar amanhã ou refaz seu saber para melhor ensinar hoje ou, de outro lado, aprendizagem de quem, criança ainda, se acha nos começos de sua escolarização.
Enquanto preparação do sujeito para aprender, estudar é, em primeiro lugar, um que-fazer crítico, criador, recriador, não importa que eu nele me engaje através da leitura de um texto que trata ou discute um certo conteúdo que me foi proposto pela escola ou se o realizo partindo de uma reflexão crítica sobre um certo acontecimentos social ou natural e que, como necessidade da própria reflexão, me conduz à leitura de textos que minha curiosidade e minha experiência intelectual me sugerem ou que me são sugeridos por outros.
Assim, em nível de uma posição crítica, a que não dicotomiza o saber do senso comum do outro saber, mais sistemático, de maior exatidão, mas busca uma síntese dos contrários, o ato de estudar implica sempre o de ler, mesmo que neste não se esgote. De ler o mundo, de ler a palavra e assim ler a leitura do mundo anteriormente feita. Mas ler não é puro entretenimento nem tampouco um exercício de memorização mecânica de certos trechos do texto.
Se, na verdade, estou estudando e estou lendo seriamente, não posso ultra-passar uma página se não consegui com relativa clareza, ganhar sua significação. Minha saída não está em memorizar porções de períodos lendo mecanicamente duas, três, quatro vezes pedaços do texto fechando os olhos e tentando repeti-las como se sua fixação puramente maquinal me desse o conhecimento de que preciso.

Ler é uma operação inteligente, difícil, exigente, mas gratificante. Ninguém lê ou estuda autenticamente se não assume, diante do texto ou do objeto da curiosidade a forma crítica de ser ou de estar sendo sujeito da curiosidade, sujeito da leitura, sujeito do processo de conhecer em que se acha. Ler é procurar buscar criar a compreensão do lido; daí, entre outros pontos fundamentais, a importância do ensino correto da leitura e da escrita. É que ensinar a ler é engajar-se numa experiência criativa em torno da compreensão. Da compreensão e da comunicação.
E a experiência da compreensão será tão mais profunda quanto sejamos nela capazes de associar, jamais dicotomizar, os conceitos emergentes da experiência escolar aos que resultam do mundo da cotidianidade. Um exercício crítico sempre exigido pela leitura e necessariamente pela escuta é o de como nos darmos facilmente à passagem da experiência sensorial que caracteriza a cotidianidade à generalização que se opera na linguagem escolar e desta ao concreto tangível. Uma das formas de realizarmos este exercício consiste na prática que me venho referindo como "leitura da leitura anterior do mundo", entendendo-se aqui como "leitura do mundo" a "leitura" que precede a leitura da palavra e que perseguindo igualmente a compreensão do objeto se faz no domínio da cotidianidade. A leitura da palavra, fazendo-se também em busca da compreensão do texto e, portanto, dos objetos nele referidos, nos remete agora à leitura anterior do mundo. O que me parece fundamental deixar claro é que a leitura do mundo que é feita a partir da experiência sensorial não basta. Mas, por outro lado, não pode ser desprezada como inferior pela leitura feita a partir do mundo abstrato dos conceitos que vai da generalização ao tangível.

Certa vez, uma alfabetizanda nordestina discutia, em seu círculo de cultura, uma codificação (1) que representava um homem que, trabalhando o barro, criava com as mãos, um jarro. Discutia-se, através da "leitura" de uma série de codificações que, no fundo, são representações da realidade concreta, o que é cultura. O conceito de cultura já havia sido apreendido pelo grupo através do esforço da compreensão que caracteriza a leitura do mundo e/ou da palavra. Na sua experiência anterior, cuja memória ela guardava no seu corpo, sua compreensão do processo em que o homem, trabalhando o barro, criava o jarro, compreensão gestada sensorialmente, lhe dizia que fazer o jarro era uma forma de trabalho com que, concretamente, se sustentava. Assim como o jarro era apenas o objeto, produto do trabalho que, vendido, viabilizava sua vida e a de sua família.
Agora, ultrapassando a experiência sensorial, indo mais além dela, dava um passo fundamental: alcançava a capacidade de generalizar que caracteriza a "experiência escolar". Criar o jarro como o trabalho transformador sobre o barro não era apenas a forma de sobreviver, mas também de fazer cultura, de fazer arte. Foi por isso que, relendo sua leitura anterior do mundo e dos que-fazeres no mundo, aquela alfabetizanda nordestina disse segura e orgulhosa: "Faço cultura. Faço isto".



Paulo Reglus Neves Freire nasceu no dia 19 de setembro de 1921 em Recife, Pernambuco. Aprendeu a ler e a escrever com os pais, à sombra das árvores do quintal da casa em que nasceu. Tinha oito anos quando a família teve que se mudar para Jaboatão, a 18 km de Recife. Aos 13 anos perdeu o pai e seus estudos tiveram que ser adiados. Entrou no ginásio com 16 anos. Aos 20 conseguiu uma vaga na Faculdade de Direito do Recife.
O estudo da linguagem do povo foi um dos pontos de partida da elaboração pedagógica de Paulo Freire, para o que também foi muito significativo o seu envolvimento com o Movimento de Cultura Popular (MCP) do Recife. Foi um dos fundadores do Serviço de Extensão Cultural da Universidade do Recife e seu primeiro diretor. Através desse trabalho elaborou os primeiros estudos de um novo método de alfabetização, que expôs em 1958. As primeiras experiências do Método Paulo Freire começaram na cidade de Angicos, no Rio Grande do Norte, em 1962, onde 300 trabalhadores foram alfabetizados em 45 dias. No ano seguinte, foi convidado pelo presidente João Goulart para repensar a alfabetização de adultos em âmbito nacional. O golpe militar interrompeu os trabalhos e reprimiu toda a mobilização popular.
Paulo Freire foi preso, acusado de comunista. Foram 16 anos de exílio, dolorosos, mas também muito produtivos: uma estadia de cinco anos no Chile como consultor da Unesco no Instituto de Capacitação e Investigação em Reforma Agrária; uma mudança para Genebra, na Suíça em 1970, para trabalhar como consultor do Conselho Mundial de Igejas, onde desenvolveu programas de alfabetização para a Tanzânia e Guiné-Bissau, e ajudou em campanhas no Peru e Nicaraguá; em 1980, voltou definitivamente ao país, passando a ser professor da PUC-SP e da Univesidade de Campinas (Unicamp). Uma das experiências significativas de Paulo Freire foi ter trabalhado como secretário da Educação da Prefeitura de São Paulo, na gestão Luiza Erundina (PT), entre 1989 e 1991. Paulo Freire morreu no dia 2 de maio de 1997, aos 76 anos de idade, em plena atividade de educador e de pensador. Estava casado com Ana Maria (Nita) Araújo Freire, também educadora.
É autor dos livros Educação como prática da libedade. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1967; Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1970; Extensão ou comunicação? Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1971; Ação cultural para a liberdade e outros escritos. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1976; Cartas à Guiné-Bissau. Registros de uma experiência em processo. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1977; Educação e mudança. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1979; A importância do ato de ler em três artigos que se completam. São Paulo, Cortez, 1982; A Educação na cidade. São Paulo, Cortez, 1991; Pedagogia da esperança: um reencontro com a Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1992; Política e educação. São Paulo, Cortez, 1993; Professora sim, Tia não: cartas a quem ousa ensinar. São Paulo, Olho D'Água, 1993; Cartas a Cristina. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1994; À sombra desta mangueira. São Paulo, Olho D'Água, 1995. Pedagogia de autonomia. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1996. Pedagogia da indignação. São Paulo, Editora da Unesp, 2000.



Noutra ocasião presenciei experiência semelhante do ponto de vista da inteligência do comportamento das pessoas. Já me referi a este fato em outro trabalho mas não faz mal que o retome agora. Me achava na Ilha de São Tomé, na África Ocidental, no Golfo da Guiné. Participava com educadores e educadoras nacionais, do primeiro curso de formação para alfabetizadores.
Havia sido escolhido pela equipe nacional um pequeno povoado, Porto Mont, região de pesca, para ser o centro das atividades de formação. Havia sugerido aos nacionais que a formação dos educadores e educadoras se fizesse não seguindo certos métodos tradicionais que separam prática de teoria. Nem tampouco através de nenhuma forma de trabalho essencialmente dicotomizante de teoria e prática e que ou menospreza a teoria, negando-lhe qualquer importância, enfatizando exclusivamente a prática, a única a valer, ou negando a prática fixando-se só na teoria. Pelo contrário, minha intenção era que, desde o começo do curso, vivêssemos a relação contraditória entre prática e teoria, que será objeto de análise de uma de minhas cartas.
Recusava, por isso mesmo, uma forma de trabalho em que fossem reservados os primeiros momentos do curso para exposições ditas teóricas sobre matéria fundamental de formação dos futuros educadores e educadoras. Momento para discursos de algumas pessoas, as consideradas mais capazes para falar aos outros.
Minha convicção era outra. Pensava numa forma de trabalho em que, numa única manhã, se falasse de alguns conceitos-chave codificação, decodificação, por exemplo como se estivéssemos num tempo de apresentações, sem, contudo, nem de longe imaginar que as apresentações de certos conceitos fossem já suficientes para o domínio da compreensão em torno deles. A discussão crítica sobre a prática em que se engajariam é o que o faria.
Assim, a idéia básica, aceita e posta em prática, é que os jovens que se preparariam para a tarefa de educadoras e educadores populares deveriam coordenar a discussão em torno de codificações num círculo de cultura com 25 participantes. Os participantes do círculo de cultura estavam cientes de que se tratava de um trabalho de afirmação de educadores. Discutiu-se com eles antes sua tarefa política de nos ajudar no esforço de formação, sabendo que iam trabalhar com jovens em pleno processo de sua formação. Sabiam que eles, assim como os jovens a serem formados, jamais tinham feito o que iam fazer. A única diferença que os marcava é que os participantes liam apenas o mundo enquanto os jovens a serem formados para a tarefa de educadores liam já a palavra também. Jamais, contudo, haviam discutido uma codificação assim como jamais haviam tido a mais mínima experiência alfabetizando alguém.
Em cada tarde do curso com duas horas de trabalho com os 25 participantes, quatro candidatos assumiam a direção dos debates. Os responsáveis pelo curso assistiam em silêncio, sem interferir, fazendo suas notas. No dia seguinte, no seminário de avaliação de formação, de quatro horas, se discutiam os equívocos, os erros e os acertos dos candidatos, na presença do grupo inteiro, desocultando-se com eles a teoria que se achava na sua prática.
Dificilmente se repetiam os erros e os equívocos que haviam sido cometidos e analisados. A teoria emergia molhada da prática vivida.
Foi exatamente numa das tardes de formação que, durante a discussão de uma codificação que retratava Porto Mont, com suas casinhas alinhadas à margem da praia, em frente ao mar, com um pescador que deixava seu barco com um peixe na mão, que dois dos participantes, como se houvessem combinado, se levantaram, andaram até a janela da escola em que estávamos e olhando Porto Mont lá longe, disseram, de frente novamente para a codificação que representava o povoado: "É. Porto Mont é assim e não sabíamos".
Até então, sua "leitura" do lugarejo, de seu mundo particular, uma "leitura" feita demasiadamente próxima do "texto", que era o contexto do povoado, não lhes havia permitido ver Porto Mont como ele era. Havia uma certa "opacidade" que cobria e encobria Porto Mont. A experiência que estavam fazendo de "tomar distância" do objeto, no caso, da codificação de Porto Mont, lhes possibilitava uma nova leitura mais fiel ao "texto", quer dizer, ao contexto de Porto Mont. A "tomada de distância" que a "leitura" da codificação lhes possibilitou os aproximou mais de Porto Mont como "texto" sendo lido. Esta nova leitura refez a leitura anterior, daí que hajam dito: "É. Porto Mont é assim e não sabíamos". Imersos na realidade de seu pequeno mundo, não eram capazes de vê-la. "Tomando distância" dela, emergiram e, assim, a viram como até então jamais a tinham visto.
Estudar é desocultar, é ganhar a compreensão mais exata do objeto, é perceber suas relações com outros objetos. Implica que o estudioso, sujeito do estudo, se arrisque, se aventure, sem o que não cria nem recria.
Por isso também é que ensinar não pode ser um puro processo, como tanto tenho dito, de transferência de conhecimento do ensinante ao aprendiz. Transferência mecânica de que resulte a memorização maquinal que já critiquei. Ao estudo crítico corresponde um ensino igualmente crítico que demanda necessariamente uma forma crítica de compreender e de realizar a leitura da palavra e a leitura do mundo, leitura do contexto.
A forma crítica de compreender e de realizar a leitura da palavra e a leitura do mundo está, de um lado, na não negação da linguagem simples, "desarmada", ingênua, na sua não desvalorização por constituir-se de conceitos criados na cotidianidade, no mundo da experiência sensorial; de outro, na recusa ao que se chama de "linguagem difícil", impossível, porque desenvolvendo-se em torno de conceitos abstratos. Pelo contrário, a forma crítica de compreender e de realizar a leitura do texto e a do contexto não exclui nenhuma da duas formas de linguagem ou de sintaxe. Reconhece, todavia, que o escritor que usa a linguagem científica, acadêmica, ao dever procurar tornar-se acessível, menos fechado, mais claro, menos difícil, mais simples, não pode ser simplista.
Ninguém que lê, que estuda, tem o direito de abandonar a leitura de um texto como difícil porque não entendeu o que significa, por exemplo, a palavra epistemologia.
Assim como um pedreiro não pode prescindir de um conjunto de instrumentos de trabalho, sem os quais não levanta as paredes da casa que está sendo construída, assim também o leitor estudioso precisa de instrumentos fundamentais, sem os quais não pode ler ou escrever com eficácia. Dicionários (2), entre eles o etimológico, o de regimes de verbos, o de regimes de substantivos e adjetivos, o filosófico, o de sinônimos e de antônimos, enciclopédias. A leitura comparativa de texto, de outro autor que trate o mesmo tema cuja linguagem seja menos complexa.
Usar esses instrumentos de trabalho não é, como às vezes se pensa, uma perda de tempo. O tempo que eu uso quando leio ou escrevo ou escrevo e leio, na consulta de dicionários e enciclopédias, na leitura de capítulos, ou trechos de livros que podem me ajudar na análise mais crítica de um tema é tempo fundamental de meu trabalho, de meu ofício gostoso de ler ou de escrever.
Enquanto leitores, não temos o direito de esperar, muito menos de exigir, que os escritores façam sua tarefa, a de escrever, e quase a nossa, a de compreender o escrito, explicando a cada passo, no texto ou numa nota ao pé da página, o que quiseram dizer com isto ou aquilo. Seu dever, como escritores, é escrever simples, escrever leve, é facilitar e não dificultar a compreensão do leitor, mas não dar a ele as coisas feitas e prontas.
A compreensão do que se está lendo, estudando, não estala assim, de repente, como se fosse um milagre. A compreensão é trabalhada, é forjada, por quem lê, por quem estuda que, sendo sujeito dela, se deve instrumentar para melhor fazê-la. Por isso mesmo, ler, estudar, é um trabalho paciente, desafiador, persistente.
Não é tarefa para gente demasiado apressada ou pouco humilde que, em lugar de assumir suas deficiências, as transfere para o autor ou autora do livro, considerado como impossível de ser estudado.
É preciso deixar claro, também, que há uma relação necessária entre o nível do conteúdo do livro e o nível da atual formação do leitor. Estes níveis envolvem a experiência intelectual do autor e do leitor. A compreensão do que se lê tem que ver com essa relação. Quando a distância entre aqueles níveis é demasiado grande, quanto um não tem nada que ver com o outro, todo esforço em busca da compreensão é inútil. Não está havendo, neste caso, uma consonância entre o indispensável tratamento dos temas pelo autor do livro e a capacidade de apreensão por parte do leitor da linguagem necessária àquele tratamento. Por isso mesmo é que estudar é uma preparação para conhecer, é um exercício paciente e impaciente de quem, não pretendendo tudo de uma vez, luta para fazer a vez de conhecer.
A questão do uso necessário de instrumentos indispensáveis à nossa leitura e ao nosso trabalho de escrever levanta o problema do poder aquisitivo do estudante e das professoras e professores em face dos custos elevados para obter dicionários básicos da língua, dicionários filosóficos etc. Poder consultar todo esse material é um direito que têm alunos e professores a que corresponde o dever das escolas de fazer-lhes possível a consulta, equipando ou criando suas bibliotecas, com horários realistas de estudo. Reivindicar esse material é um direito e um dever de professores e estudantes.
Gostaria de voltar a algo a que fiz referência anteriormente: a relação entre ler e escrever, entendidos como processos que não se podem separar. Como processos que se devem organizar de tal modo que ler e escrever sejam percebidos como necessários para algo, como sendo alguma coisa de que a criança, como salientou Vygotsky (3), necessita e nós também.
Em primeiro lugar, a oralidade precede a grafia mas a traz em si desde o primeiro momento em que os seres humanos se tornaram socialmente capazes de ir exprimindo-se através de símbolos que diziam algo de seus sonhos, de seus medos, de sua experiência social, de suas esperanças, de suas práticas.
Quando aprendemos a ler, o fazemos sobre a escrita de alguém que antes aprendeu a ler e a escrever. Ao aprender a ler, nos preparamos para imediatamente escrever a fala que socialmente construímos.
Nas culturas letradas, sem ler e sem escrever, não se pode estudar, buscar conhecer, apreender a substantividade do objeto, reconhecer criticamente a razão de ser do objeto.
Um dos equívocos que cometemos está em dicotomizar ler de escrever, desde o começo da experiência em que as crianças ensaiam seus primeiros passos na prática da leitura e da escrita, tomando esses processos como algo desligado do processo geral de conhecer. Essa dicotomia entre ler e escrever nos acompanha sempre, como estudantes e professores. "Tenho uma dificuldade enorme de fazer minha dissertação. Não sei escrever", é a afirmação comum que se ouve nos cursos de pós-graduação de que tenho participado. No fundo, isso lamentavelmente revela o quanto nos achamos longe de uma compreensão crítica do que é estudar e do que é ensinar.
É preciso que nosso corpo, que socialmente vai se tornando atuante, consciente, falante, leitor e "escritor" se aproprie criticamente de sua forma de vir sendo que faz parte de sua natureza, histórica e socialmente constituindo-se. Quer dizer, é necessário que não apenas nos demos conta de como estamos sendo mas nos assumamos plenamente com estes "seres programados, mas para aprender", de que nos fala François Jacob (4). É necessário, então, que aprendamos a aprender, vale dizer, que entre outras coisas, demos à linguagem oral e escrita, a seu uso, a importância que lhe vem sendo cientificamente reconhecida.
Aos que estudamos, aos que ensinamos e, por isso, estudamos também, se nos impõe, ao lado da necessária leitura de textos, a redação de notas, de fichas de leitura, a redação de pequenos textos sobre as leituras que fazemos. A leitura de bons escritores, de bons romancistas, de bons poetas, dos cientistas, dos filósofos que não temem trabalhar sua linguagem a procura da boniteza, da simplicidade e da clareza (5).
Se nossas escolas, desde a mais tenra idade de seus alunos se entregassem ao trabalho de estimular neles o gosto da leitura e o da escrita, gosto que continuasse a ser estimulado durante todo o tempo de sua escolaridade, haveria possivelmente um número bastante menor de pós-graduandos falando de sua insegurança ou de sua incapacidade de escrever.
Se estudar, para nós, não fosse quase sempre um fardo, se ler não fosse uma obrigação amarga a cumprir, se, pelo contrário, estudar e ler fossem fontes de alegria e de prazer, de que resulta também o indispensável conhecimento com que nos movemos melhor no mundo, teríamos índices melhor reveladores da qualidade de nossa educação.
Este é um esforço que deve começar na pré-escola, intensificar-se no período da alfabetização e continuar sem jamais parar.
A leitura de Piaget, de Vygotsky, de Emilia Ferreiro, de Madalena F. Weffort, entre outros, assim como a leitura de especialistas que tratam não propriamente da alfabetização mas do processo de leitura como Marisa Lajolo e Ezequiel T. da Silva é de indiscutível importância.
Pensando na relação de intimidade entre pensar, ler e escrever e na necessidade que temos de viver intensamente essa relação, sugeriria a quem pretenda rigorosamente experimentá-la que, pelo menos, três vezes por semana, se entregasse à tarefa de escrever algo. Uma nota sobre uma leitura, um comentário em torno de um acontecimento de que tomou conhecimento pela imprensa, pela televisão, não importa. Uma carta para destinatário inexistente. É interessante datar os pequenos textos e guardá-los e dois ou três meses depois submetê-los a uma avaliação crítica.
Ninguém escreve se não escrever, assim como ninguém nada se não nadar.
Ao deixar claro que o uso da linguagem escrita, portanto o da leitura, está em relação com o desenvolvimento das condições materiais da sociedade, estou sublimando que minha posição não é idealista.
Recusando qualquer interpretação mecanicista da História, recuso igualmente a idealista. A primeira reduz a consciência à pura cópia das estruturas materiais da sociedade; a segunda submete tudo ao todo poderosismo da consciência. Minha posição é outra. Entendo que estas relações entre consciência e mundo são dialéticas (6).
O que não é correto, porém, é esperar que as transformações materiais se processem para que depois comecemos a encarar corretamente o problema da leitura e da escrita.
A leitura crítica dos textos e do mundo tem que ver com a sua mudança em processo.


Esta carta foi retirada do livro Professora sim, tia não. Cartas a quem ousa ensinar (Editora Olho D'Água, 10ª ed., p. 27-38) no qual Paulo Freire dialoga sobre questões da construção de uma escola democrática e popular. Escreve especialmente aos professores, convocando-os ao engajamento nesta mesma luta. Este livro foi escrito durante dois meses do ano de 1993, pouco tempo depois de sua experiência na condução da Secretaria de Educação de São Paulo.





Postado por Francinete Torres- professora E. E. Pedro II
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